segunda-feira, 17 de outubro de 2011

Mãe Preta


No acalanto africano de tuas cantigas,
Nos suspiros gementes das guitarras,
Veio o doce langor
De nossa voz,
A quentura carinhosa de nosso sangue.

És, Mãe Preta, uma velha reminiscência
Das cubatas, das senzalas,
Com ventres fecundos padreando escravos.

Mãe do Brasil? Mãe dos nossos brancos?

És, Mãe Preta, um céu noturno sem lua,
Mas todo chicoteado de estrelas.
Teu leite que desenhou o Cruzeiro,
Escorreu num jayo grosso,
Formando a estrada de São Tiago...

Tu, que nas Gerais desforraste o servilismo,
Tatuando-te com pedras preciosas,
Que deste festas de esmagar!
Tu, que criaste os filhos dos Senhores,
Embalaste os que eram da Marqueza de Santos,
Os bastardos do Primeiro Imperador
E até futuros Inconfidentes!
Quem mais teu leite amamentou, Mãe Preta?...
Luiz Gama? Patrocínio? Marcílio Dias?
A tua seiva maravilhosa
Sempre transfundiu o ardor cívico, o talento vivo,
O arrojo Maximo!

Dos teus seios, Mãe Preta, teria brotado o luar?
Foste tu que na Bahia alimentaste o gênio poético
De Castro Alves? No Maranhão a glória de Gonçalves Dias?
Terias ungido a dor de Cruz e Souza?
Foste e ainda és tudo no Brasil, Mãe Preta!

Gostosa, contando a história do Saci,
Ninando murucututu
Para os teus bisnetos de hoje...

Continuas a ser a mesma virgem de Loanda,
Cantando e sapateando no batuque,
Correndo o frasco na macumba,
Quando chega Ogum, no seu cavalo de vento,
Varando pelos quilombos.

Quanto Sinhô e Sinhá-Moça
Chupou teu sangue, Mãe Preta?!...

Agora, como ontem, és a festeira do Divino,
A Maria Tereza dos quitutes com pimenta e com dendê.
És, finalmente, a procriadora cor da noite,
Que desde o nascimento do Brasil
Te fizeste “Mãe de leite”...

Abençoa-nos, pois, aqueles que não se envergonham de Ti,
Que sugamos com avidez teus seios fartos

-bebendo a vida!-
Que nos honramos com o teu amor!

-Tua bênção, Mãe Preta!

O texto fala sobre as amas de leite que vinham da África, como escravas para cuidar dos filhos dos seus Senhores. Esta poesia nos serviu como inspiração para a roupa que será uma saia longa preta e uma blusa de amarrações branca, justamente o contraste de ser uma mulher negra amamentando os “brancos”.

E na cabeça um lenço estampado que representa as cores da África mescladas com as do Brasil, amarrado como turbante, como elas usavam na época, remetendo a sua naturalidade africana e sua vida como ama no Brasil.


TEXTO E CROQUI Luciana Cruz e Cynthia Cazassa

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