terça-feira, 18 de outubro de 2011

Liamba


Quem descobriu que no teu fumo havia sono?

Na maloca na senzala
na trabalheira do eito,
como agora nos guindastes nos porões nas usinas,
quem teria ensinado o teu fumo faz dormi?

Um cigarro da tua erva chama a "linha" do pajé...

Amoleces o corpo cansado
do negro que deitou moído
e te fuma e sonha longe
beiço mole babando...

O coitado do africano,
da caboclada sujeita,
na entorpecência da tua fumaça
não queria mais acordar...

Liamba!
Teu fumo foi fuga do cativeiro,
trazendo atabaques rufando pras danças,
na magia guerreira do reino de Exu.

Liamba!
Na tontura gostosa na quebreira vadia
que sentem os teus "defumados",
estaria toda "força" dos Santos Protetores
que vieram da outra banda do mar?

Liamba! Liamba!
Dá sempre o teu sonho bom,
embriaga o teu homem pobre,
porque quando ele te fuma
é com vontade de sonhar...


No poema Liamba o fumo é retratado como uma válvula de escape para o povo negro, é tido como uma maneira de aliviar as dores e dificuldades que o negro passa, uma forma de fugir, escapar da realidade e sonhar com algo melhor, de entorpecer o corpo e a alma.

A peça se inspira justamente nesta válvula de escape e utiliza a palha, uma das matérias-primas utilizadas para confeccionar o fumo, para representar tal elemento. Desta maneira, a peça é confeccionada com um “tubinho” de palha que é complementado com uma longa saia de algodão. O turbante e os colares de contas são adicionados como forma de representação e complementação da cultura africana.


TEXTO E CROQUI Lívia Barros, Luana Pina

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