segunda-feira, 17 de outubro de 2011

Chorinho



“Flô amorosa
pensativa
sensitiva
oh! vê...”


Alta noite...

O silêncio parou para ouvir o chorinho
que os crioulos tocavam
amando as estrelas falando com a lua.
Ao som do violão da flauta e cavaquinho
horas inteiras aquele chorinho
acorda a rua adormecida.

Das músicas chulas as notas subindo
conduzem três almas demais brasileiras serenatando.
E vão por esse mundão que se chama Saudade
e começa e termina numa esquina de rua.

“Flô amorosa
pensativa
sensitiva
oh! vê...”

E os dedos raspando nas cordas gementes,
os beiços soprando na boca da flauta,
comovem a Lua que fica branquinha,
ouvindo e sentindo o chorinho pachola...

“Flô amorosa
pensativa
sensitiva
oh! vê...”

Uma janela curiosa vem ver quem é que toca
sob o luar, mesmo que um dia...

“Flô amorosa
pensativa...”

E a crioula trescalando a Mangerona,
camisa de renda cabelo entrançado,
fecha a janela que se abriu de madrugada
por uma flauta um violão e um cavaquinho..


Chorinho
Autoria Valdemar Henrique e Bruno de Menezes

Ano: 1932


O poeta paraense Bruno de Menezes foi um artista que em sua obra retrata de maneira simbólica a presença das três raças que deram origem ao povo brasileiro, o branco, o índio e o negro, presentes no verso do poema “conduzem três almas demais brasileiras serenatando”.

A ambientação desse poema é a noite enluarada com estrelas ao som do Chorinho, que pode ser considerado a primeira música tipicamente brasileira, reforçando a idéia da união das três raças, tocadas inicialmente nos subúrbio do Rio de Janeiro por crioulos (miscigenação - mistura de raças), que se reuniam em grupos para tocar de “ouvido”.

O “look” na sua composição, representa a mistura das raças que formou o povo brasileiro. O negro: pela calça saruel, de origem africana (Marrocos). O branco: pelo turbante de renda de origem Europeia. O Índio: pelos adereços em forma de colar de penas e outros. E a noite enluarada e estrelada que servia de fundo para as serenatas pelo sári que envolve o ombro.

TEXTO E CROQUI Julieta Sinimbú, Nazaré Palheta

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