Sabe-se que a moda, além de prazer individual, funciona como signo honorífico resultante de uma série de valores e sentimentos que são atribuídos às roupas. Geralmente esses valores estão de acordo com o centro hegemônico da época que difunde suas ideologias e costumes, além de ditar a noção de elegância e posição social. A Europa, berço da sociedade ocidental, por muito tempo ditou a moda para os países subdesenvolvidos e o texto refere-se justamente às influências da França sobre o Brasil do século XIX.
Percebe-se ao longo do século XIX no Brasil, uma crescente popularização das mercadorias européias oriundas da França. Há o acesso de classes médias ao consumo de artigos de moda parisiense, ainda que de menor custo e requinte. O luxo, antes monopolizado por pequenos grupos elitistas, passa por um processo paulatino de democratização, e chega às classes menos abastadas. A classe média numa tentativa de ascensão projeta seu ser através do ter, com o objetivo de apagar sua origem desvalorizada racial econômica, e socialmente.
A relação entre a França, centro polarizador de tendências de moda, e o Brasil se dá de forma bastante estreita, tendo em vista a tecnologia e deficiências dos meios de comunicação durante o século XIX. O vestir do brasileiro nas grandes capitais estava de acordo com as tendências da moda parisienses com um retardo de aproximadamente um ano. Além disso, a influência cultural, os trejeitos e modos englobavam a composição eurocêntrica do vestir, constituindo no Brasil do século XIX simulacros da sociedade européia.
Durante o seu período oitocentista, o Brasil mantinha-se na função de exportador de matéria-prima, primeiramente com o açúcar e posteriormente com o café. Entretanto a prosperidade oriunda desses comércios foi em grande parte despendida com produtos industrializados vindos de Paris. A alta sociedade brasileira procurava tornar-se nobre através do consumo de artigos e modas européias, aspirando a aproximação do seu perfil ao perfil cultural e “civilizado” sobretudo dos parisienses. Tal comportamento gerou um ciclo desigual em que o produto nacional provia as grandes metrópoles européias através de seus produtos primários, e depois se percebia sujeito aos ditames sociais da Europa.
Com o passar dos anos a moda no Brasil começou a assumir uma identidade mais nacionalista. Ou pelo menos, procurou adaptar as modas e costumes franceses à realidade brasileira. Surgiu então um mercado de modistas dentro do país, e gradativamente desenvolveu-se a consciência de que o Brasil é um país tropical, com um clima completamente diferente da Europa.Junto com esta consciência, também nasceu a necessidade de se produzir uma moda com identidade brasileira, adequada ao clima, aos dia-a-dia dos cidadãos e a grande extensão e variação climática de nosso território.
ARTIGO escrito por Heidy Bastos, Marco Normando, Sam Tavares, Saori Tanno e Thiago Maués a partir do texto “Modas e ascensão social” de Gilberto Freyre. Leia mais em FREYRE, Gilberto. Modos de homem, modas de mulher. Rio de janeiro: Zahar, 2002.