sábado, 16 de abril de 2011

Novos olhares e outras perspectivas


Recém-formada pelo curso de Bacharelado em Moda pela Universidade da Amazônia, Mariana Melo diz que está divida entre o design gráfico, a estamparia e a fotografia. Em entrevista ao blog Fazendo Moda, ela conta como desenvolveu seu trabalho de conclusão e o que achou do curso. Atualmente, Mariana está fazendo especialização em design gráfico, e pretende tentar um mestrado para, quem sabe, seguir a carreira acadêmica.

Fazendo Moda – Qual foi o tema do seu trabalho e qual era o seu objetivo?
Mariana Melo – Meu trabalho - “Cidades velhas: coisas belas e sujas” - teve como tema os centros das cidades brasileiras, que acabam por se confundir com seus centros históricos como acontece em Belém. O objetivo era retratar um espaço que considero fascinante, chamando atenção para a conservação do patrimônio histórico das cidades. E compreender como as pessoas têm essa relação de fascínio e identificação com o lugar, como a cidade pode ser retrato incrível da sociedade.

Fazendo Moda – O que foi mais difícil no processo de pesquisa?
Mariana Melo – Como escolhi um tema fora da área de moda, para depois tomá-lo como inspiração tive que pensar muito sobre como traduzir todos aqueles aspectos de uma forma que fosse atraente para a moda. Da mesma forma, compreender temas, idéias e filosofias da área de arquitetura e urbanismo. Mas acho que, mesmo sendo um processo difícil, me deixou ver como é importante que o criador de moda tenha um repertório vasto e possa saber um pouco, ou profundamente, sobre outros assuntos fora do mundo da moda.

Fazendo Moda – Quais foram às fontes de inspiração para desenvolvimento da coleção?
Mariana Melo – Foi, principalmente, o centro histórico. A memória e a identidade que as pessoas têm associada com este espaço foi mais uma fonte. E a partir daí ser inspirada pelo conceito de flâneur, um personagem que caminha pela cidade apenas para observá-la, fotografando ou escrevendo sobre ela. Fui inspirada pelos pequenos detalhes que esse personagem poderia ver: pelas rachaduras, pelas grades, pelos azulejos, pela dualidade do novo e do velho, pelo contraste de cores fortes e desbotadas, pela bagunça do comércio em meio aos prédios de diferentes épocas. Acho que respirei e vivi o centro de Belém por quase um ano, e tudo nele me serviu de inspiração.

Fazendo Moda – O que você achou do curso de Bacharel em Moda da Universidade da Amazônia?
Mariana Melo – Eu posso dizer que aproveitei cada dia de curso. Aprendi tudo que pude, experimentei áreas diferentes, descobri do que gostava ou não, para o que tinha habilidade ou não, e me dediquei ao que achava interessante, fiz monitoria, participei de eventos, fiz grandes amigos e colegas de profissão. Então, acho que posso dizer que foi um bom curso, que me possibilitou conhecer várias vertentes desse tal “mundo da moda”. Acho que ele tende apenas a melhorar, por ainda ser um curso novo vai se adaptando às necessidades dos alunos e vice-versa. Mas acho que depende muito da dedicação de cada um, como a gente decide o que fazer com que recebemos, cabendo a todos, aluno e universidade, tornarem as possibilidades do curso cada vez maiores.

Fazendo Moda – Quais são os seus planos a partir de agora?
Mariana Melo – Poder viver fazendo o que eu amo e, de preferência, aprender cada vez mais sobre moda e design. Estou fazendo especialização em design gráfico, e pretendo tentar um mestrado para, quem sabe, seguir a carreira acadêmica.

Fazendo Moda – Como você vê o mercado de moda paraense?
Mariana Melo – Vejo como um mercado que ainda precisa da característica empreendedora de quem quer entrar nele. É claro que um mercado pequeno tem todas as possibilidades de crescer, mas é muito difícil viver de moda quando temos altos impostos e falta de incentivos. Eventos como o Caixa de Criadores e o Faces da Moda, são importantes, mas o mercado de moda paraense não irá crescer enquanto não se entender que isto também, além de inspirador, é um negócio, que poderia gerar muitos empregos, renda e riqueza.

No Ceará temos de pequenas fábricas que empregam 20 funcionários, até enormes que empregam 500 a cada turno, a diferença entre nós e eles, é que há uma série de isenções fiscais e apoio que não temos do governo. Logo, mesmo que as pequenas marcas participantes do Caixa de criadores, por exemplo, quisesse contratar pessoas e aumentar sua produção, isto seria complicado, delicado e, muitas vezes, caro. Lembrando que estes processos envolvem tantos outros profissionais e áreas, como a fotografia e área têxtil. Portanto, nós, como profissionais da área de moda estamos nos qualificando, e é preciso perguntar quando o governo dará importância para esta qualificação, este mercado enorme e de grande potencial. Espero que o mercado de moda cresça e que possamos exportar para o mundo a cultura dessa região, mas competir com fábricas de 500 funcionários de outros estados, quando você tem que ser “dono-estilista-modelista-costureiro-publicitário” de uma marca, não parece justo.

TEXTO Natália Dutra, Eliane Beckman, Francineide Guimarães, Nicaele Mendonça e Thalita Grazielle EDIÇÃO Rosyane Rodrigues FOTO Arquivo Pessoal

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