Abandono, esquecimento e desvalorização. Hoje, são essas as características que marcam o estilo arquitetônico Raio-que-o-parta, uma expressão genuinamente paraense que surgiu em Belém na década de 1950, influenciada pelas tendências modernistas no Brasil. Com o intuito de resgatar o valor e a importância desse estilo, a marca Ná Figueredo lança a “Coleção Raio-que-o-parta 2011”.
A coleção é composta por camisas masculinas e femininas, além de bermudas, saias e vestidos todos estampados, com modelagens geométricas e cores inspiradas no estilo Raio-que-o-parta. As estampas, que são a identidade da marca Ná Figueredo, trazem reinterpretações de ícones das casas, como os raios, os mosaicos, as grades e os objetos da estética kitsch, como os anões de jardins. “A coleção, além de levar peças coloridas e inspiradas nas características do Raio-que-o-parta, pretende também valorizar o estilo e fazer com que a população paraense conheça uma arquitetura feita no Pará e por paraenses”, diz Ná Figueredo, dono da marca.
O Raio-que-o-parta é uma manifestação da arquitetura paraense que consiste em usar restos (cacos) de azulejos nas fachadas das casas. Os mosaicos criam figuras geométricas em forma de raios. Foi o arquiteto e historiador carioca Donato Mello Jr. quem "batizou" a manifestação de "raio-que-o-parta", por considerá-la de extremo mau gosto.
Nos anos de 1950, o azulejo já era um material comum em muitas construções, porém, era um artigo caro, utilizado somente pelos que tinham maior poder aquisitivo. Alguns especialistas, como a arquiteta e professora da Universidade Federal do Pará (UFPA), Cybelle Miranda, acreditam que esse recurso tenha sido utilizado por quem queria modernizar a sua casa mas não tinha dinheiro para construir uma nova. Então, os restos (cacos) de azulejos - rejeitos de obras - eram usados como apliques decorativos como se fossem uma maquiagem, embelezando a fachada.
Nas ruas de Belém, exemplos de casas com fachadas que possuem traços e características marcantes do Raio-que-o-parta podem ser vistas nos bairros do Guamá, São Braz, Jurunas, Cremação, Pedreira e Reduto, entre outros.
Serviço A coleção completa pode ser vista nas lojas Ná Figueredo Gentil e Ná Figueredo Estação das Docas.
TEXTO Raphael Freire, especial para o Blog Fazendo Moda EDIÇÃO Rosyane Rodrigues